Meias de Compressão: tudo o que vc sempre quis saber sobre elas
Por que tem corredores que amam usá-las e outros odeiam? Como devem ser colocadas? Para que servem?
O cirurgião vascular Kasuo Miyake, formado, especializado e doutorado pela Universidade de São Paulo, referência mundial no uso da realidade aumentada na medicina, têm essas e muitas outras respostas.
“Como você coloca a meia no pé?” Eu pus a meia de compressão sob o olhar atento do Dr. Miyake e descobri aos 49 anos que não sabia fazer isso. Sinceramente, nunca tinha parado para pensar nisso. Ontem fiquei no mínimo uns cinco minutos observando e aprendendo. É fácil, coloca-se a mão com a palma virada para cima por dentro da meia, puxa a parte do calcanhar para fora. E só aí você coloca o pé e vai ajustando pouco a pouco.
A meia de compressão, como o próprio nome diz, serve para comprimir desde o pé até a panturrilha – de forma decrescente (mais forte no pé e vai diminuindo), ajudando o sangue subir pelas veias. O sangue desce pelas artérias e volta pelas veias.
Hoje além das meias de compressão para o dia a dia, que surgiram depois da primeira guerra na Europa, há as de esporte, com centenas de modelos, cores e de várias marcas. Mas por que funciona para alguns e outros não?
Eu mesma já usei algumas vezes e das quatro que tenho, só gosto de uma. A impressão que tenho que elas apertam errado. Tem uma que esquenta o pé, outra que fica larga demais na panturrilha e tenho que ficar puxando. É por essas e outras que até prefiro correr sem meias. Mas depois da aula de ontem, tudo mudou. Para ficar mais didático, vou separar por tópicos. Se ficar alguma dúvida, podem cornetar aí nos comentários que o Dr. Miyake prometeu responder uma a uma. E se suas pernas ficam pesadas no final do dia e após as corridas, é bom consultar um cirurgião vascular.
A essa altura, você deve estar se perguntando, mas por que cargas d’água um médico tão renomado foi pesquisar sobre essas meias? Ele precisava e precisa usá-las e não sentia nenhum efeito prático. Verificou com seus pacientes que alguns amavam usar e sentiam os efeitos e outros, como ele, não sentiam nenhuma melhora. Foi pesquisar e descobriu o motivo. Os tamanhos: P, M e G só atendem uma parcela pequena da população, sabe-se hoje que atendem 30% das pessoas. “Em 2005 conheci em um congresso no exterior a Bauerfeind, uma fábrica alemã de meias de compressão, fundada em 1929, que desenvolveu um sistema de imagem 3D – um scanner de pernas – que molda a meia em 3D com medidas precisas de volume”, conta.
O médico visitou a fábrica em 2007 e aprendeu muito por lá. “Eles já tinham mapeado em 3D cem mil pernas de pessoas de todas as partes do mundo, e chegaram a 16 formatos que atendem a 90% da população”, explica. “Além disso, fazem também meias sob medida, que chegam a durar 10 anos, se bem cuidadas”, completa.
Foi aí que ele decidiu então se tornar voluntário da marca e fez de tudo para que ela abrisse uma filial no Brasil, para que enfim os brasileiros tivessem acesso a uma meia de compressão de altíssima qualidade. E conseguiu. A empresa chegou ao Brasil em 2012, é uma das apoiadoras da Rio 2016 – fornecedora exclusiva de bandagens e órteses, palmilhas sob medida, meias de compressão. Essa é a meia usada pelas melhores fundistas do mundo e por nossa maratonista Adriana Silva, aliás, Miyake é quem cuida dela. Mais, será a Bauerfeind que vai cuidar da recuperação de todos os atletas dentro da Vila Olímpica na Rio 2016, com uma estrutura com os melhores produtos do mundo para isso. E por conta dessa “cruzada” tecnológica, na noite de 14 de maio Kasuo Miyake foi a 158ª pessoa a erguer a tocha olímpica – um reconhecimento por todo o trabalho em prol da saúde vascular de nossos atletas. #orgulho
Como as meias possuem 16 tamanhos distintos é preciso fazer o exame do scanner 3D – que é gratuito – e pode ser feito nas lojas próprias da marca. O exame é simples e dura apenas 15 minutos. Você veste uma meia calça, sobe numa estrutura móvel, que gira 360 graus.
GUIA DE MEIAS DE COMPRESSÃO
CANELITO – não serve como meia de compressão, aliás faz o efeito contrário – garroteando o sistema linfático, prejudicando a volta do sangue pelas veias.
COMPRESSÃO – tem que comprimir do pé a panturrilha, de forma decrescente. Dr. Kasuo tem um equipamento que faz essa medição. Os quatro modelos que levei foram reprovados. Só um médico pode indicar a melhor meia a ser usada e para quais fins. As meias esportivas são 3×4.
MANUTENÇÃO – Lavar a mão com sabão neutro, não secar na secadora, não passar. Secar a sombra. Não tirar a etiqueta (ela contém o número de série).
QUALIDADE – Vire a meia do avesso e confira o acabamento. Não pode ter sobras de costuras e tecidos. O punho, que fica logo abaixo do joelho, não pode ser com tecido dobrado. Não pode ter costura no comprimento da meia. Meia boa não desfia só de roçar as unhas.
QUANDO USAR – Corridas de longa distância, após treinos intensos e corridas de longas distâncias. Ou com prescrição médica.
PERFORMANCE – Em atletas de elite uma meia de compressão de altíssima qualidade pode significar a vitória. A ucraniana Tetyana Gamera-Shmyrko, bicampeão da Maratona de Osaka, usou a meia de compressão nas duas vitórias (foto acima, atleta de cor de rosa).
RESPIRABILIDADE – A meia de compressão tem que respirar bem. Peça para alguém assoprar levemente na sua meia, você tem que sentir o ar entrar.
TAMANHO – Fuja dos tamanhos únicos. Experimente, não pode sobrar em cima nem embaixo, tem que ficar justinha, com mais pressão nos pés e menor na panturrilha. Ideal é investir em uma meia sob medida.
TECIDO – Não pode ser de algodão, não pode ser de lycra, tem que ser de tecido leve, respirável e que não encharque. Se o pé esquentar durante a corrida, o corpo manda mais sangue para os pés para resfriar a região, o que é péssimo para quem está correndo longas distâncias.
VESTIR – Muito cuidado ao vestir. Se estiver grande nunca vire o excesso do tecido fazer uma barra – isso vai garrotear a perna, prejudicando a circulação do sangue.